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Alceu Wamosy


Jean Delville, The Love of Souls

Duas Almas

Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
Entra, e sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho, 
Viver sozinha sempre, e nunca foste amada...

A neve branca anda a branquear, lividamente, a estrada,
E a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
Se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
Essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
Podes partir denovo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
Há de ficar comigo uma saudade sua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...

Alceu Wamosy, poeta gaúcho de Uruguaiana - Rio Grande do Sul, (1895-1923), republicano, morreu após ser ferido durante a Revolução Federalista, patrono de uma cadeira da Academia Rio-Grandense de Letras. In: WAMOSY, Alceu. Poesias. 3ª ed. Livramento: Brisolla, 1950, p.127.

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